Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

domingo, 31 de janeiro de 2016

NÃO TEMAS A MORTE OU A VIDA

Não temo a morte nem a vida.
Só temo a desilusão, 
Essa criatura diversa enfadonha
Que nos lança, de quando em vez,
Para um quintal deserto.

Não temo a morte nem a vida.
E agarro a ilusão com o bater do coração...
Que é uma forma tão bela e assertiva
Como dois punhos fechados, irmanados,
Soberbamente apaixonados.

Eles são teus, toma-os
Neste preciso instante,
Para te ampararem
Os momentos de desânimo.

E fortalecer entrelaçando
As tuas delicadas, mas audazes,
Resolutas, determinadas mãos.

Amo-te para além da ilusão.  
Enfrentando essa figura temível,
Talvez se transforme num novo
Tigre de papel,
Um de garras de gel,
E dentes de goma... 

Pudera que assim seja!

E talvez possamos uma vez,
E outra, lançá-la ao céu, 
Vendo-a perder-se nas brumas,
Para onde enviarmos os nossos piores...
Os nossos mais iludidos sonhos.

Expostas estarão, então, as desilusões,
À rarefacção das mais altas
E vazias camadas da atmosfera...

Como os balões de ar quente,
Que de tanto dilatar,
Se esvaziam. 
© PAS

O AMOR É FILHO DA ILUSÃO E PAI DA DESILUSÃO
(Miguel de Unamuno)

EM CADA FRUSTRAÇÃO EXISTE UMA DESILUSÃO, EM CADA DESILUSÃO UMA OPORTUNIDADE DE RECOMEÇO
(Rafael Silveira)

BICO A BICO

A toalha mais do que um edredão de plumas é um edredão de vida.
Dentro desse edredão contém-se todas as penas deste mundo. Não a das constantes migradoras ou de arribação, não a de pombos ou gaivotas, embora ambas arrulhem; não a de andorinhas ou de corujas, não a de pelicanos ou cegonhas, mas de outras aves mais tipo beija-flor, as que repartem alimento com o bico, atenção e carinho entre ambos, querendo fazer ninho de abraços, ninho de olhares, ninho de toques, ninho de ousadias, vontade de subir a terreiros, limpando-se mutuamente penas. Vontade de levantar voo, abanando asas a um só tempo, voando lado a lado em direcção ao sonho. Este voo em direcção ao sol é delas e só delas! © PAS

Estendem a toalha na areia e descansam nesse colchão de improviso onde as mãos são virgens do corpo do outro.
Os olhares não escondem. Há algo de absolutamente credível no que se diz sem recurso a palavras. Há o tempo presente, dádiva inesperada e surpreendentemente doce. E o futuro, sagrado intocável que premeia a criatividade.
Viajam as mãos e as bocas, enquanto outras viagens se desenham.
Vivem de nada. Do improviso. Numa sociedade de troca directa. Trocam música por pintura, sonhos por realidades, projectos por afectos. A ordem dos factores é arbitrária.
Vivem da beleza do momentâneo. Onde concretizam o que parecia o sonho. Os desígnios de Deus? Um sentir biunívoco, a confiança que germina por via intuitiva.
As mãos são o início a e continuação de qualquer caminho. As mãos são quem conduz, quem ampara e acompanha. São mãos de escrita e de ousadia, suaves instrumentos da orquestra muda das valsas roubadas ao momento.
A mão que se oferece em convite intuitivo. Vem. Estarei contigo.
"Nelle tue mani" 

© Sofia Champlon de Barros

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

PARTILHA

Nem sempre na vida as nossas lágrimas representam tristeza.
Há umas que nos caem pela face abaixo como rios desvairados comandados por comportas que se abrem num momento. É que às vezes somos confrontados com a beleza pura. A que reflecte a humanidade de caminhos duros, recheados de pedras, difíceis na aparência mas tão ricos na essência que abrem o nosso olhar a paisagens tão belas, ladeadas de riachos e de prados imensos emoldurados de flores. Não a beleza que emana de barbies de conteúdos tantas vezes exíguos, mas de forças de vontade, forças de exemplo, conteúdos tão prementes, tão cheios de humanidade, que agradecemos aos céus e aos ventos a partilha da beleza desse conteúdo. Um conteúdo perene, único, com substância, com sentido de Deus mesmo para os que acreditam que Deus é apenas o nosso sonho e um momento. E o privilégio de poder nessa comunicação íntima partilhar o seu silêncio. Há seres que nos reconciliam com Deus. Humanos com quem só apetece partilhar a sua "bagagem mais leve", tornando-a diária, depois de separada a pesada. Afinal a única que reflecte a verdadeira dimensão da humanidade. Conta comigo beleza, se te aprouver, na beleza e frescura da tua inquieta ventania, para segurar com a força e o carinho de ambas as minhas, a tua mão, partilhando o ainda excesso de peso da tua bagagem, tornando-a leve como pluma.
© PAS

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

RENASCIDO II

Já o Grego Heródoto dizia, num tempo diferente do dos palermas que hoje destroem sem apelo nem agravo a memória tangível de uma civilização, muito para lá da do nosso Grego: «Pensar o passado, para compreender o presente, para idealizar o futuro». Bem como Confúcio nos lembrava que: «Se queremos conhecer o passado, examinamos o presente que é o seu resultado; e se queremos conhecer o futuro examinamos o presente, que é a sua causa». Ao dobrar o cabo dos enta poderia ter-me conformado em ir semeando o meu armazém de diatribes, o lugar onde tento ser eu e Deus ao mesmo tempo, já que só o Poderoso se pode dar a este prazer de revoada e de omnipresença. Mas, como todos os mortais, percebi que o partilhar não só me dava esse puxão de consciência aguda da mortalidade, como me daria uma pobre mas sólida razão para a minha existência. E, assim, aqui está um dos meus muitos reportes já anteriormente finalizados (este no ano da graça de 2012). Agora, em 2015, solidariamente revisado (como é mister e maldição dos não pertencentes a tribos...) e dado à publicação. O Futuro é passado no presente não sendo um romance estruturado com todos os elementos que povoam os romances, também não é um livro de contos. Assim, será um híbrido: vamos chamar-lhe um Reconto! Uma espécie de Teoria Singular dos Contos Relativos. E nunca se esqueçam que o nosso Futuro é o nosso passado, devidamente carimbado e aposto no presente.

Mais aqui:  http://www.amazon.com/Futuro-Passado-Presente-Portuguese-Edition/dp/1508918848

CONHEÇO-TE MELHOR

Duas e vinte sete da manhã. Página 41. Conheço-te melhor. Admiro a tua sobriedade, a tua lucidez, a beleza e riqueza do teu espírito. A tua testa antecipava-o. A inteligência nem sempre se pode esconder. Revelas em cada palavra beleza e determinação. E eu vou sorvendo com lentidão cada um das tuas palavras. Mas há mais, muito mais. Sempre há mais mundos num só mundo por descobrirmos. Basta estarmos atentos e nos focarmos. 

Três da manhã. A almofada refila. Sente-se desacompanhada, inquieta, desusada. Digo-lhe que não. Que é um coração que transborda. Perguntas-me de quê. Poderia te responder. Mas a páginas setenta não vou desenrolar citações, muito menos expor ilusões, sonhos ou segredos. Um ano de recomendações, de vivências, de experiências que me acautelaram a pele. O dia chega e a noite tarda. "Lê-me!" pedes-me, arisca, com um descaramento só teu. "São só mais trinta páginas!" Seja. Vemo-nos lá mais para a frente, quando o teu sol emergir ainda mais no meu céu.

Três e meia da manhã. A tua inteligência deu agora lugar à tua sensualidade, promovida no bom gosto. As palavras podem ser tão sensuais como providas desse gosto. As palavras têm até o condão de reunirem almas quase gémeas, sem o perigo de não se encontrar um subconjunto contido de elementos que se intersectam. Reunião e intersecção são divisores comuns, elementos proféticos de porvires. Beliscam e besuntam-me as tuas palavras, mas de afectos. A página cem e poucos do fim está perto e o toque das tuas palavras já há muito se entranha em todos os meus poros e vasos. A ventania é agora uma breve brisa, temo sempre o efeito do vendaval, mas da minha janela vem o som dos pássaros a anunciar primavera, um dos muitos abraços que irão, assim espero, aquietar os nossos invernos, um prémio mais de merecimento do que de consolação.
© PAS

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

FRASES QUE BROTARAM EM MIM A UMA SEXTA-FEIRA

Há sítios tão belos que nos despertam a consciência do movimento.
Sítios onde poderíamos demorar eternidades.
Apenas pelo prazer de fazermos deles pelo sonho as nossas cidades e castelos de eleição.
© PAS

Gosto de assumir as minhas escolhas. 
Mesmo que elas não sejam para os outros vencedoras. 
Mas as minhas vitórias não são opostas aos outros, 
são antes apostas nos outros.
Afinal escolher é optar com a alma. 
Sem biombos, na maior das transparências. 
Tudo o que transparece existe e vive.
E eu gosto de viver. Em paz. E com a minha consciência.
A de querer apenas um mundo melhor para todos.
Isso basta-me.
© PAS


Outra frase agora desta autoria:
Não se é amigo por que se quer.
É-se amigo por que alguém faz de nós seu amigo.
© PAS

De Ruben Alves uma frase genial:
há quem leve seus cães a passear, eu levo os meus olhos.
Bom dia a todos.

© Ruben Alves

A ESCRITA É UM DIÁLOGO

Escreve-se para ver. E a escrita é um diálogo. Com um imaginário que nos ultrapassa. Um diálogo com as imagens que nos estimulam. E as palavras são deveras fotografias. Mas também geram movimento. Fotografias escritas a preto e branco. Lidas passam a cores. Agora um curriculum vitae não é um curriculum mortis. Num curriculum não estão palavras mortas, porque um curriculum anda à procura de vida. E a vida tem presente, futuro, mas também passado. O futuro, relembra-se, é passado no presente. Como procuramos os vivos que nos estimulam a palavra. Sem eles estaríamos mortos. Ou em rigor mortis que é o mesmo.
(baseado num texto de Ruben Alves)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

ENTRE A AMIZADE E O AMOR

Já não quero o teu amor.
Prefiro a tua amizade,
Porque a tua amizade, amiga,
Sei que é temerária,
E não se enrodilhará jamais
Nas tramas da fraqueza
Do amor.



 
Se te prometer uma mão
Cheia de rosas
Sei, amiga,
Que as colocarás num vaso;

E jamais as deixarás
Sem o fio de água
Que as deixará fenecer.
© PAS

A LEVEZA DA AMIZADE CERTA

Nem sempre a insustentável leveza do ser
é o caminho mais leve,
embora a leveza pareça ser o caminho certo.
Nem sempre a amizade desliza no sentido certo.
Como certas vezes o que parece
o início de um bela amizade,
uma amizade leve, indefinida, sem rumo,
uma amizade tão pura
como os puros beijos de afecto
cheios apenas de vontade de proteger,
e consolar mágoas profundas,
enrodilhando num abraço energético,
transforma-se numa parede muda,
ou num declive absurdo
onde ficam coladas as palavras,
enquanto rolam as saudades.

Mais do que diferente,
o lugar a que devemos voltar
deve ser o lugar da leveza dos afectos certos.
Deixa a leveza te levar, renovando,
retornando à pureza única
da simples amizade dos sonhos.
© PAS

MAL OU BEM ENTENDIDOS

Nem sempre a amizade desliza no sentido certo.
Certas vezes o que parecia o início de um bela amizade
transforma-se numa parede muda,
ou num declive absurdo
onde ficam coladas as palavras,
enquanto rolam as saudades.

© PAS

sábado, 16 de janeiro de 2016

O EXILADO DE X: O RESGATE



«Na manhã seguinte levantou-se tarde. Havia que tentar esquecer as últimas tormentas, uma vida despojada de alegrias e sentido, a reversão de um tão longo período de felicidade. Habituado ao reboliço da cidade saiu à rua que lhe pareceu deserta. As casas baixas muitas das quais descascadas da cor branca, lembravam-lhe um cemitério. Na janela de uma casa vislumbrou uma velha senhora. Lembrava-lhe um quadro, enquadrada que estava por uma portada de janela azulada. Uma Veermer de trazer por vila. Emitiu um olá sonoro. A velha senhora apontou ao nariz com esse mesmo apontador a exigir silêncio. Calou-se! Todos os silêncios devem ser respeitados, relembrou. Como todo o som não merece o silêncio. Esperou uma justificação para tal acto, mas esperou em vão. Ela não veio, por que haveria de vir se era o silêncio aquilo que propunha, embora a mulher parecesse inclinar o ouvido para o quarteirão seguinte. Filosofou, por que a filosofia, como já ficámos a saber, lhe era inerente. Estava-lhe colada à pele. «Os nossos silêncios devem ser sempre acompanhados por uma justificação ou podem ser mal interpretados». E o dano que isso dá, essa causalidade, não é virtual, mas de efeito real desastroso tantas vezes. Perdem-se num repente tantos amigos na vida como estrelas no céu. Resgatar é preciso por que todo o retorno é possível. Chama-se rotação e translação dos corpos e das almas. Até as estrelas se tornam de repente cadentes ou será candentes?!
© Pedro A. Sande (livro em andamento com título quase provisório)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O direito e o dever das palavras: 5 pensamentos do dia

Há quem acredite que a sua vida se resume ao aqui e agora, e faça da sua vida um confronto com a superficialidade, como se tudo tivesse de gastar nesta vida; há quem acredite que a vida é um legado interior, uma herança, que devemos transportar.

Todos os silêncios devem ser respeitados. Como todo o som não merece o seu silêncio.

Os nossos silêncios devem ser sempre acompanhados por uma justificação ou podem ser mal interpretados.

Nunca toques a alma de ninguém, muito menos de um amigo, se pretendes exclusivamente encher a tua: é cruel e tantas vezes contrário à nossa religião!

 A arte mais difícil da vida é tentar transformar o temporário em eterno

 © Pedro A. Sande

sábado, 9 de janeiro de 2016

Soumission

Leitura a começar:

"Submission (French: Soumission) is a novel by the French writer Michel Houellebecq. The French edition of the book was published on 7 January 2015 by Flammarion, with German (German: Unterwerfung) and Italian (Italian: Sottomissione) translations also published in January. The book instantly became a bestseller in Italy, Germany and France. The English edition of the book, translated by Lorin Stein, was published on 10 September 2015.
The novel, a political satire, imagines a situation in which a Muslim party upholding traditionalist and patriarchal values leads the 2022 vote in France and is able to form a government with the support of France's Islamo-Leftist Socialist Party. The book drew an unusual amount of attention because, by a macabre coincidence, it was released on the day of the Charlie Hebdo shooting.