Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Amanhe Ser: Reaprender A Ser Feliz

9. AMANHE SER: REAPRENDER A SER FELIZ
16-06-2013

Olho ao longe
E mais que um a Noite ser
Vejo um amanhe Ser
Lindo e Brilhante
Pois também
Reaprendo
A ser feliz.

Não há pranto
Que não esmoreça
Nem tristeza no olhar
Que não se abata.

Há sempre um
Novo e brilhante
Raio de sol
Que nos solta o olhar.

Não mais o engano
Nem a tristeza
E a amargura
No olhar.

Apenas o dia

E esse Amanhe Ser
Que sucede
A um a Noite Ser
Que parecia
Fútil
Cinzento
E sem esperança.
© PAS (Tempos, As Novíssimas Sombras; 2014; Pedro A. Sande; pg. 17-18)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Gonçalo e Mia: Mas Mia, mia mais alto!

Artur: tem aqui um a seu favor. De facto os gostos são como as alergias. Comungo também consigo que uma focagem muito mecanicista, muito geométrica, muito fundada no isolacionismo da palavra, pode colocar aquele sabor amargo a papel de jornal, mau grado ser uma espécie de diário ou hebdomadário de referência.
O Gonçalo é sem dúvida um grande escritor, um escritor de características mais Nortenho do que Sulista, um académico, um filósofo, um exercitador de um mundo muito ligado a engrenagens, um mecanicista literário, onde o homem do Sul que vive na desordem e no caos se pode confundir. 
Um daqueles escritores que tanto exercita o génio, como comunga com o chato: mas todo o experimentalismo que tente esticar até à face escura da lua parece ser mesmo assim. É quase como confundir papel com moeda ou, obliterando uma ou duas das suas três funções, e, ou, não possuindo a percepção do mais significativo alicerce intelectual do interaccionismo simbólico, o insustentável pragmatismo tomado (tornado) no caos: uma espécie de criptografia Tomazziana .
Entretanto Raul, e fazendo um breve parêntese, enviei-lhe a horrível Obsessão… um pastel feito de Caos e Ironia, com algumas imperfeições que o benze Deus e uma certa ligeireza, esperemos não esquizóide e muito menos esquizofrénica. 
Temo pelo seu juízo crítico, uma grande prova a sua leitura, de uma obra leve, feita numa pincelada e fundada na observação, na incompletude e na ligeireza da ironia. 
Mas reitero que o senhor do senhor de Juarroz é notável, o que não significa que haja dias curvilíneos em que não haja pachorra para alguma rudeza da alma, como se a alma fosse uma linha recta. 
E vendo outros dias de génio em que a alma vai liberta no castelo da popa, como “aquela” extraordinária Viagem à Índia. Ademais, o senhor Tavares, é muito jovem, como se quer às actuais gestões de carreira e com enormes provas escritas: nem o senhor de Crato, o cruzadista contra as escolas de educação, se atreveria a colocar o seu génio à prova.
Com a aprendizagem do ajustamento ficaremos cada vez mais disciplinados e germanizados: e a obra de Tavares não terá em Portugal, em sequência, nos próximos cem anos, génio “à altura”.
E não é ironia, parece mesmo realidade, mesmo se para o meu gosto Couto Mia, mia mais alto!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Vértice Com Vórtice Dentro!

Nem mais a propósito esse Vértice com este Vórtice dos tempos, que inevitavelmente será de recomeço.
A leitura de um escritor não se completa, ou esgota, na leitura de uma ou duas das suas obras.
De todas podemos gostar de forma diferente, mas todas nos dão uma percepção da capacidade de criação e visão do mundo dos seus autores.
Saramago é sem dúvida um dos maiores escritores portugueses de sempre.
Podemos não gostar dele pela percepção que temos de si como pessoa, ou da sua tomada de posição na cidadania, concordante ou não com o nosso posicionamento e o nosso lugar na matriz de valores actual.
Como pessoa não gosto das histórias ficcionadas (ou não) de algumas das suas posições na época do grande saneamento; mas já passou demasiada água pelas pontes para perceber que reserva não significa necessariamente antipatia e o seu antónimo é uma característica que privilegio. Afinal, ser-se agradável com o nosso semelhante é uma condição de inteligência… e não custa nada!   
Como romântico gosto do seu olhar com o aparente grande amor da sua vida.
Como escritor que é o que verdadeiramente interessa, gosto da sua inteligência posta ao serviço da sua obra, do seu rigor e trabalho de formiguinha que bem se percebe nos seus romances, bem como da sua cultura e da experiência de vida que denota.
A leitura calma e ponderada da sua obra permite-nos perceber como constrói e tece as suas tramas. Uma construção cuidada, recheada de conteúdo, recheada de reflexão, recheada de um olhar minucioso, como se rodando cada palavra e cada frase com olhar de artífice olhando-a cuidadosamente com esse olhar de artesão de vários ângulos.
Tendo lido apenas uma dezena das suas obras, nunca tinha lido o seu «Evangelho segundo Jesus Cristo». Não é fácil, de facto, no nosso limitado tempo de vida ler toda a obra de cada um dos autores, mesmo dos nossos preferidos. Mas este «Evangelho...», a par com o «Memorial...» e o «Cerco de Lisboa», é para mim (que isto gostos, embora potencialmente comuns, são em primeiro lugar apenas só nossos...), uma das suas grandes obras.
E bastava este excerto:
«José, Maria e o burro tinham vindo a atravessar o deserto, pois o deserto não é aquilo que vulgarmente se pensa, deserto é tudo quanto esteja ausente dos homens...» (J.S., O Evangelho segundo...; pág. 79).
PAS

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Comuns Mortais

Hoje não me apetece ler em Cracóvia mas escrever em Lisboa que é um lugar de poetas, escritores e outros artistas.
Nesta coisa de autores, escritores e egos há-os para todos os gostos. Os tímidos, os presumidos, os reflectidos, os que se elevam ao olimpo; e aqueles que percebem que a única diferença os separando do comum dos mortais é serem tão mortais e comuns como o mais vulgar dos homens.
A diletância e o autoconvencimento é um aparvalhamento do ser e uma tentativa tão pueril como triste de querer possuir só para si um olimpo que afinal não é mais do que a extensão de uma terra habitual.
Escrever não é relevância, mas paixão, e uma paixão que deve fazer perceber que colocar-se num pedestal não faz de nós mais do que comuns jarras de qualidade tão comum como a louça de que nos servimos todos os dias ao jantar.
Vem isto a propósito de alguma coisa para além de uma pequena menção à cidade da literatura e ao desamigamento de quem se considera especial?
Vem. Vem isto a propósito de uma sociedade feudal, exclusiva, petulante, sem dimensão humana. Uma sociedade que por aí pulula sem gratidão nos lábios e com ilusão nos rostos. Uma espécie de sociedade de Corte que se alimenta em pequenos círculos, excluindo e incluindo pelo seguidismo, pelo interesse e pela urgência em ser diferente e querer ser único.
Hoje, de facto, tive a prova de não passarmos mais do que gente comum.