Citações:

Sem o direito natural não há Estado de direito. Pois a submissão do Estado à ordem jurídica, com a garantia dos direitos humanos, só é verdadeiramente eficaz reconhecendo-se um critério objetivo de justiça, que transcende o direito positivo e do qual este depende. Ou a razão do direito e da justiça reside num princípio superior à votante dos legisladores e decorrente da própria natureza, ou a ordem jurídica é simplesmente expressão da força social dominante
(José Pedro Galvão de Sousa, brasileiro, 1912-1992)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Edição Muito Exclusiva

Antes do mais peço desculpa pelo monstro, mas é mesmo uma questão de popularidade do...tema.
Há um facto insofismável: os livros devem servir para ser lidos e não para enfeitar as prateleiras. Mas no mundo dos factos mesmo esta ideia não passível de ser diversa da real pode ser contrariada. Porque há quem faça dos livros objecto de adorno, objecto de vaidade, objecto de opulência, objecto de aparência, objecto de coleccionismo e por aí adiante. A sua qualidade como objecto de literatura deve pois assim ser relativizada - como aliás tudo na vida. A própria noção de qualidade é relativa - depende do observador. O que não invalida que haja um standard médio para um público médio - e que se possa dispensar o profissional que conhece o mercado. Profissional, ele próprio, que está inconscientemente balizado pelo gosto pessoal, pelas metas que lhe são fixadas, pela previsibilidade ou imprevisibilidade do mercado onde se posiciona, pela disposição momentânea, pelo excesso de originais que lhe são colocados à frente, pelo seu grau percepcionado do princípio de Peter, pelo seu grau de saturação, pelo seu profissionalismo... Porque também há «públicos - muitos», e cada vez mais variados, a noção de nicho é cada vez mais importante: e essa não deve ser desprezada, sob pena de nos focalizarmos sempre num nicho específico, limitando o nosso foco. A percepção que eu tenho da globalização não vai, no entanto, exclusivamente no sentido uniformizador, quase compressor, de que fala o texto. A globalização trouxe à luz da ribalta interesses cada vez mais diversos, interesses que se descobrem a si próprios pela descoberta do outro, como nichos colectivos no espaço. Há, por outro lado no (s) livro (s) uma espécie de dialéctica entre o inovador e o clássico - os livros são cada vez mais a reconfiguração do tempo e espaço - pelo que os gostos variam não só entre nós, como dentro de nós; variam na razão do espaço e tempo, da nossa maturação, do nosso caminho, do interesse pessoal, de um momento, da mundividência, do nosso «carrego», de, de… E foi sabendo que tudo é relativo, que ontem descobri um blogue que pretende ser um «think-thank» do livro - e que tal como o H.E. da Rosário presta um serviço relevante de «serviço (ao) público». O Edição - Exclusiva, é esse o seu nome, faz-me lembrar aqueles jornaleiros americanos que cantavam, «extra, extra,...» dando a conhecer, em tempo, as notícias, e fazendo descobrir ao autor - e a todos os interessados na leitura, na escrita, no livro - os meandros da edição e do livro.
Fá-lo de forma desassombrada, como a modernidade exige (a informação já não é - o poder - que era) colocando todas as cartas na mesa, mostrando a falta de pureza que existe neste sector – como na vida - o que o não diferencia de outros sectores com os seus bons e menos bons players...
Desde os interesses, às práticas, à dissociação cada vez maior entre editoras e autores, à importância do marketing, mas também aos seus erros de apreciação, às formas mais ou menos transparentes ou opacas, ao rapto do autor, aos factos do mercado… enfim, ao seu modus operandi pela sobrevivência num mercado mínimo (um quase esquema de Ponzi, de rotatividade sobrevivente como o náufrago que se quer manter à tona, mesmo se tendo de apoiar em outros sujeitos da cadeia - quase necrófaga, canibalística, alimentar).
Está lá tudo! Por mim, só posso agradecer; tenho aprendido muito, o que me faz estar agradecido aos autores destes dois blogues.
Eu, cuja noção de literatura é: «tudo o que é colocado perante os meus olhos e não me distrai ou fere a vista».

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ainda A Propósito De Rentes E Do Tempo Do Lugar Contado E Sequestrado Que Se Chama Portugal

A crise tem destas coisas: potencia a mesquinhez, a inveja, a revolta, a percepção da injustiça, da desigualdade, o ciúme. Bem diz Rentes de Carvalho: «O sapo engole-se, e o queixume só adianta por dar uma ilusão de alívio. Melhor é calar, deixar correr o tempo, e então pagar na mesma moeda. Com juros.» Em uma semana «o meu amigo», amigo de espírito e de palavras, Rentes, injecta mais esta pérola: «Festivais literários: feiras de grandes egos, grandes vaidades, talentos de todos os tamanhos. Por maior que seja o palco, nunca é grande bastante, e sabe-se o que acontece quando se fecham muitos ratos numa caixa pequena. A dor dos que não são ratos, é só poderem morder com os olhos.» Ratos chama Rentes aos pobres que vivem da idolatria, do favor, do pedido pequenino, rasteiro, da indignidade por um pequeno pedacinho de queijo. E acrescenta, terminando uma semana de boas e pedagógicas afirmações: «Infelizmente, nem a benzedura liberta o possesso, nem argumento há que lhe faça esquecer a tentação.» Estaria Rentes a pensar em ratos de biblioteca, gente que se julga deus só de tocar com os olhos, carpideiros ou carpideiras e gente tonta que se toma por genial? A literatura é como o país: possesso, degenerado, pouco respeitoso, deselegante, deseducado, provinciano, arbitrário, nobre de corte, serviçal, bajulador, apoderado.
Ai, Rentes, pudesse eu ter «uma amante Holandesa» como tu e carpia a dor da falta de sol nos braços de uma moçoila carnuda, alta, viçosa, de uma brancura de bela adormecida, bem longe desta raça miúda, meio visigótica, meio arábica, insidiosa e cínica, sem me preocupar com a dor da perda, com a mesquinhez do excluído ou com o rolo compressor da individualidade e excentricidade do autor.
A este propósito, autor não anónimo, porque assina Michael Levin, diz:
«Publishers have begun to hate authors. But seeking to squeeze out the individuality and admittedly the eccentricity of authors is just one more reason why book publishing as we know it is going over the cliff.»
Pelo menos da dimensão dos penhascos de Moher, acrescentaria eu, cuja benzedura não me liberta o demónio de que estou possesso.

O Rolo Compressor Da Individualidade e Excentricidade Do Autor

Michael Levin.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O Velho Escritor!

Escrever é um acto exigente quando sujeito a obrigação - e à ditadura do tempo. Exige uma espécie de esvaziamento interior que tem de ir sendo sempre compensado - e reposto.
É como uma espécie de pomar onde a recolecção dos frutos, sob pena de exaustão, tem de ir sendo compensado com a reposição dos nutrientes. Entre a insustentável leveza do existir e a insustentável dureza da reflexão, está a escrita: que está sempre datada com a data das nossas mãos, da nossa memória, da nossa estrada, das nossas fantasias.
E que não tem idade! Idade tem as pedras, o mau juízo e a saudade. Porque a imaginação e a criatividade são intemporais.
Como diriam os meus novos avós e os meus velhos pais, a velhice pode estar em nós até à nascença e as novidades serem como sementes nas nossas mãos enrugadas.
Sempre novos, caros amigos, são os livros, antes de lhes tocarmos pela décima vez e pegarmos pela lombada!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A Largueza De Um Bom Português: A Resposta!

Como não há nada pior que a unanimidade, vai-me desculpar se não comungo do copo e do petisco, da afición e dos apoderados - e se o vejo mais como um leão das savanas do que como uma traça nacional, daquelas que estiolam e definham enrugadas de se alimentarem dos seus semelhantes, dos pequenos jogos de poder e do pó dos tempos. São curiosas, as coincidências: liceu de Oeiras, mergulho, professorado, anti - elitismo, condados e baronatos originais,
(não os actuais e pequeninos baronatos, quais pequenos poderes e fazeres que corrompem, pequenina, mesquinhamente, largos sectores da sociedade portuguesa),
observação, humanismo, bom sentimento,
(que sentido teríamos nós se fosse daquela outra forma mesquinha, daquela intolerância provinda do medo de nos confrontarmos a nós próprios, de pormos só os nossos interesses materiais em primeiro ou único lugar?),
sonho, cultivo da «treta esclarecida»
(como «a treta esclarecida» pode ser mais profunda do que a absoluta e infecunda certeza de muitos, onde o que nasce tem o sabor do plastificado)
e acções elevadas ao estilo nobre Quixoteano,
(não serão os moinhos de vento um ardil dos inimigos de tanta Largueza?)
Assim, caro amigo, dê caça aí ao leão no Planalto Central, numa luta grandiosa, rude, mas igual e digna, que só é cruel para quem não faz da vida um fecundo Planalto que dá azo à profícua e elevada Largueza!

O Escritor Dentro De Si

Tudo o que é demasiado pessoal, demasiado introspectivo,  esgota-se em nós após nos despirmos dos nossos sentimentos. 
A escrita exige reinvenção e territórios novos. 
Muitos dos novos escritores utilizam esse território quase ad nauseam, quase como narcisos a afagarem-se dentro de si; dentro de segredos que nunca verão a luz do dia.
Uns fazem-no inovadoramente e com interesse para o público; outros caminham dentro de si próprios levantando os pergaminhos onde ficam registadas os negativos e positivos da sua própria caminhada. 
Uns e outros são escritores dentro de si, não são é escritores para todos.

domingo, 18 de novembro de 2012

Não Ficar à Mercê de Cada Bastardo Que Tenha 5 Cêntimos Para Um Selo

Uma das mais geniais frases de um escritor publicado é esta de Faulkner: 
«A melhor coisa de ser publicado é não ficar à mercê de cada bastardo que tenha 5 cêntimos para um selo».

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Parabéns, Eduardo!

Muita literatura e muita política. 
Quem é que disse que (D)a literatura não é política?

Parabéns, José!

José é um dos meus autores preferidos a par com Eça e Cardoso Pires; não foi um «gosto» fácil, mas um encontro tardio e demorado. 
Um daqueles «gostos» marcado por uma certa idade, onde à quantidade, que soçobra, se persevera, sobrevivendo a qualidade. 
Com a maturidade, veio a certeza que o trabalho dá frutos - e como José foi um trabalhador da escrita! - e que a própria leitura deve ser saboreada analisando a contra luz as suas propriedades físicas, estabelecida que é a química da sua identidade. 
Pelos «90 anos do nascimento de José», eu José, filho e neto de austeros  Josés, já tinha guardadas cem páginas de homenagem a este Josué da escrita, que avançam à medida da reprodução celular e de alguma intenção epistolar.  
«Antes do mais deixem-me apresentar. O meu nome é Ramiro José. O meu pai é José Ramiro, um nome invertido no espelho, uma simetria distorcida, mas quase perfeita. Provenho de um longa lista de Josés que se vão imortalizando em primeiro ou segundo lugar, à vez, levados por uma vaidade familiar qualquer, mas também por uma certeza de sermos insubstituíveis e eternos, ligados por uma fina corrente ou um laço eléctrico qualquer. A minha profissão é estar vivo, sendo o guardião de todos os anos da minha morte, que é muito mais do que o contrário da vida.
Todos os anos são quase iguais, embora as trovoadas, a chuva miudinha ou intensa, o tempo tépido ou o calor abrasador sejam menos regulares ou intensos aqui e além. O que varia são os que nascem e os que morrem.
Quando morremos quase invariavelmente fazem de nós o melhor ser que pisou a terra. Mesmo que tenhamos sido os maiores pulhas, os mais belos narcisos ou outros corpos anti-sociais. A muitos que morrem levam-nos a dar um passeio pela primeira vez. Um passeio que teima em não ser longo. Pelo menos não com aquela dimensão que gostaríamos. Normalmente é um passeio de poucos quilómetros com algumas flores à mistura e também normalmente, para muitos que morrem, é a primeira vez que recebem flores…»

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Um jeito manso

Um jeito manso; um excelente blog. Um blog ao serviço da inteligência e da escrita.

A Máscara de Teresa

Sobre a Ana Teresa Pereira, vencedora do recente prémio da APE com «O Lago»,  há um sítio que nos permite «descobrir» o seu universo, http://www.arlindo-correia.org/240301.html
«Aprendi a ler quando tinha cinco anos e foi por essa altura que os meus pais me deram o primeiro gato. Os livros e os animais. Escrevia histórias de todos os géneros, aventuras, policiais, westerns. E havia os filmes. Eu seria outra pessoa se não tivesse visto The Night of the Hunter, Gaslight, quando era criança. Os meus livros são os meus filmes.»
Na literatura não deve haver peias, nem baias, nem fórmulas, nem juízos formatados. O universo literário para quem ama verdadeiramente a escrita como forma de vida, deve ser aberto e senhor de muitos matizes. Não é autor quem pode, mas quem quer; e quem tem o seu próprio universo ficcional, seja ele público ou pessoal. A ficção somos nós. A propósito disto acabei de ler «um pinguim na garagem», do Luís Caminha, um escritor que encara a escrita como forma de vida, e que termina desta forma: «Mas tu, meu irmão, que também abominas o adestramento dos cavalos e as touradas, a criação desumana e a ignorância dos homens, far-me-ás a simpatia de cuidar deles?» 
Aqui, já não falava dos cães que iria deixar, falava dos homens!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

OS 140 CARACTERES

Pediste-me uma micronarrativa de 140 C?
C de 140 quilates?
Sim!
Vou entregar-te em mãos, mas fiquei na dúvida dos espaços.
«Já só tens + 41! Não te alargues neste tesouro.»

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Redenção E Castigo

É verdade que toda a crise gera a sua própria oportunidade e… a sua própria redenção. O ponto é: à custa de quê e de que dimensão de dor?
Os anos do cinzentismo Salazarista e Marcelista «criava as suas próprias tertúlias nos cafés, os livros proibidos que passavam por baixo dos balcões, os programas de TV inteligentes como o Zip Zip e as revistas pensantes como O Tempo e o Modo.»
Apesar disso, apesar desses cinzentos e queridos anos sessenta de contrários, era indubitável que portugal queria ser outra coisa e queria o retorno ao humanismo.
E conseguiu - ou pensou que conseguiu - a espaços, durante os empolgantes anos setenta. Bem como nos oitenta, nos noventa e no raiar do novo milénio. A mudança foi radical, até meteu uma nova dimensão, a I&D, mas a doença sempre esteve latente e emerge em ciclos, paulatina, sorrateira, batendo como quem espera por nós, com quase todos a adorar os bezerros de ouro e os meninos de oiro, individualistas, delirantes, franzinos na ambição colectiva. A claustrofobia lusitana, a bipolaridade e uma mesquinhez individualista muito pequenina de quem queria ser grande, uma espécie de sapo que quer à viva força ser boi foram, novamente, sendo destapados e postos a olho nú - para quem os queria ver e não vivia em negação. A ganância, a obliteração do essencial, do espartano e a distorção de valores fizeram o resto.
Hoje, resta-nos as saudades do futuro, as saudades dos queridos anos 80, 90 - e os livros - e apesar da austeridade radical (há sempre outros caminhos!) que nos reconduz à percepção da nossa própria dimensão de cigarras, os queridos anos 2000 serão no futuro vistos como anos terríveis de falta de crescimento, de esperança, de desemprego, de matriz corrupta, do abaixamento bomba relógio natal, do retorno à emigração, do desalinhamento europeu, mas também da tomada de consciência de uma nova centralidade de prioridades, de afectos, de riqueza na simplicidade e de afirmação de sustentabilidade social, pessoal e ambiental.
Redenção e castigo. Queridos anos 2010! Que saudades iremos ter de ti!  

(atingir a salvação pelo sofrimento, com religião, existencialismo, socialismo e niilismo pelo meio, é muito Dostoiévskiano)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Culturalmente Ricos

Quando oiço falar na responsabilidade dos políticos, ou «não foi eu que fiz esta dívida!» arrepelo-me todo. 
Não porque não pense que os políticos não são os responsáveis finalistas do que muito há de mau em Portugal, mas porque muitas vezes nos esquecemos que os políticos são o povo em função ou o povo construído. 
Há quem pense mesmo que a responsabilidade de todo o mal está nas nossas elites, mas também não me parece, até porque a definição de elite está longe de ser una e as elites são o povo letrado e a ler livros. 
Logo, mais rigoroso talvez seja dizer que: a cultura que temos baseada na cunha, no pedido cirúrgico, no empenho, no concurso sequestrado, no tráfico de influências, nos favorzinhos, nos jeitinhos, nas encomendazinhas, nas comendazinhas, nas prendinhas, este poder cultural, emana do povo. 
Logo, parece que não podemos fugir à responsabilidade maior deste estado de coisas.

O Melhor Povo Do Mundo!

Nenhum dos nossos actos tem de visar um fim, um objectivo, um interesse!
A existência também nos pede que nos abandonemos às vagas!
E embora nos falte às vezes a decência, a racionalidade, a calma, a ponderação, o respeito, a sensatez, a pontualidade, a polaridade, o civismo, a educação, a humanidade, a formação, a humildade, a disciplina, a vontade, a emulação, a solidariedade, a tolerância, a compreensão, a honestidade, a parcimónia, e tudo o mais de que não me recordo, somos sem quaisquer margem para dúvidas, indefectivelmente, o melhor povo do mundo!

Estimulação

Os textos da Rosário têm sempre um efeito estimulador – inspirador – motivador trazendo à colação, na espuma dos mesmos, aspectos muito interessantes que se distinguem da mera leitura (que já não é pouco!) das obras anunciadas das leituras extraordinárias. O parágrafo final dá uma ferroada na maldade ilustrada, nos recadinhos – hoje coisa de quem tem tempo de sobra - as polémicas - que são uma espécie de estímulos abraços de dialéctica estimulante dos contrários - e a mesquinhez. Sendo transversais a todos os tempos e lugares, são o corolário moderno da alusão da contenda entre neo – realistas e existencialistas - sujeitos de muita investigação e interesse como se comprova a seguir pelo que aqui trago como sachador da semente lançada à terra da Rosário.

http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/3044.pdf
http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2994.pdf
http://home.utad.pt/~aoliveir/nr_mascaras.pdf

Hoje essa transversalidade das opções ideológicas e/ou éticas, parece ter ficado mesquinha e definitivamente capturada na política e no palco de assembleia, embora mesmo aí pareça, como nesta polémica, «florescer com exuberância equatorial…» - como a má erudição ou a escrita deficiente e segundo os padrões instalados. Florescência, no entanto, quase sempre com pouca substância e muito amarga, ficando as estéticas - em definho - para outros palcos.
Esta polémica, a que a Rosário alude, recordou-me um efeito muito em voga hoje em economia e finanças como o Herd – Behavior ou, portuguesmente falando, o efeito – carneirada - e o acriticismo a que a sociedade portuguesa se remete quando a crise não a afecta pessoal e directamente.
Nesse sentido, somos todos pais e filhos da crise, já que a perfeição não existe e o gosto é ele próprio «afilhado» relativo de tudo o resto. E a mesquinhez e a pequenez são, também elas, um sintoma de insanidade - característica, tantas vezes, de contornos fruto do desespero, da desdita, do amargo - e da indiferença.
No fim, só a amizade conta, a humanidade conta, o abraço conta.

O exercício de imaginação revela-se, assim, todos os dias sem complexos e sem absolutos, só o espírito aberto removendo todos os nossos demónios; demos que, em todo o lado, não devem ter mais sentido do que um enorme prazer lúdico quando não se confunde a ameaça com a busca fraterna da amizade.
Esta polémica a que a Rosário se referiu faz-me lembrar por outro lado a afirmação de sermos «o melhor povo do mundo».
Nenhum dos nossos actos tem de visar um fim, um objectivo, um interesse!
A existência também nos pede que nos abandonemos às vagas, sejamos neo-realistas, existencialistas ou não.
E embora nos falte às vezes a decência, a racionalidade, a calma, a ponderação, o respeito, a sensatez, a pontualidade, a polaridade, o civismo, a educação, a humanidade, a formação, a humildade, a honorabilidade, a disciplina, a vontade, a emulação, a solidariedade, a tolerância, a compreensão, a honestidade, a parcimónia, e tudo o mais de que não me recordo e que aparenta ser muita coisa, somos, sem quaisquer margem para dúvidas, indefectivelmente, «idiossincraticamente», o melhor povo do mundo!

Obrigado Rosário, pela chamada de atenção da polémica Vergilio - Pinheiro, com Almeida Faria com «risco» ao meio.

Fragmento

«...tempo em que às mulheres filhas da burguesia restava os salões distintos dos seus homens, onde podiam tocar piano e falar francês: e o piano e o Francês não faltavam lá por casa.
Nos tempos de hoje seria, pelo seu acto, considerada inconsciente e má mãe, mas os tempos de hoje pecam por os homens viverem escondidos na avareza e na falta de generosidade com os outros.
Escusado será dizer que fui!
E vi uma revolução triunfar com dois cruzadores, dois regimentos de soldados e uma mão cheia de civis; vi sitiantes a renderem-se a sitiados e vi um povo, sem tradição de iniciativa, de trabalho e correcção moral, a ver um trono ser desabado por um estrondo.
Havia até na rua uma velhinha vestida de negro, que dizia a quem passava e a queria ouvir:
«O trono estilhaçou-se com os estrondos; o trono era de cristal e estilhaçou-se», repetia.
Na sua pobre cabecinha ingénua e delirante, a monarquia era como uma espécie de estórias e fábulas de...»

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O Diabo Veste Leia?

A Mão do Diabo, A Mão Direita do Diabo, Dennis McShade, a gestão para onde o Diabo é chamado...o diabo veste Leia?
Vá de retro edit...
«Ói! Estavas a transpirar e a delirar!»
«Que pesadelo!» 

Vender a Alegria Ao Demo!

Entre um Deus excessivamente intimista, escondido, cinzentão, maçudo, repetitivo ad nauseam e depressivo, melhor um  Diabo extrovertido com rabo de fora, colorido, festivo e com sentido de humor. 
Vender a alma a um pretenso Deus por um pedaço de glória é que é, quantas vezes, do Diabo!